Por ocasião da morte do poeta; quando as lágrimas me impeliram à escrita e a escrita me lançou aos versos.
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Jaz nesta tela um ex-concretista.
Feitor de pedras finas e sujas.
João Cabral lhe chamaria amigo.
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Definhou pálido e vivo: paradoxalmente, pois se desiludiu com o vermelho.
Expira um artesão de letras e cores e eu diria sóbrio opinador de opiniões.
Morre o homem, o pai, o velho.
Morre um dos últimos gigantes,
e sentiremos falta dos seus versos.
Ele que é cantador dos lirismos infantes
e das expressões matemáticas certeiras.
E ei-lo ali no texto; ele que degustou tão bem do bom vinho da poesia.
Tradutor de outros bardos de outras línguas.
Morre amante das praças gregas
e pregador eloquente contra Alexandres e Napoleões.
Cabelos longos grisalhos
mas ainda desconfia de Deus.
Ou será que não?
Deus não desconfia dele
Pôs alguma coisa distinta e vibrante
nessa alma cheia da energia da vida.
O poeta, ora, o poeta, é carregado dos sentimentos dos homens!
E este, amigos, este morreu!
E morreu tanto nos admiráveis versos seus;
e morrer é como diz outro poeta: rezar! –
Que Deus com pena, deve perdoar
este ateísmo vacilante e cético;
que não é convicto em desacreditar e
longe está do ósculo profano.
E sobre esta coisa bela de dizer; daquilo que é plenamente humano,
vos digo, amigos, neste simplório canto:
em que minhas lágrimas derramam-se sinceramente.
E é tão estranho que um poeta possa amar,
nos versos surdos de um outro alguém desconhecido,
A tinta roxa derramada num recinto;
sob uma pena que fingida ou não, chorou,
tanta sangria, amigos, de alma e cores;
que de peito aberto, todos sabemos que amou!